Ciência Só Importa Quando Convém?

Pouco tempo atrás, jornalistas, deputados, e até cientistas/divulgadores como Miguel Nicolelis e Átila Iamarino cometeram o mesmo erro que Nise Yamaguchi a respeito de taxas de letalidade. Mas enquanto ela foi corrigida no ato por muitos, ninguém se manifestou sobre o outro caso.

É esse tipo de coisa que torna as juras de amor à ciência sendo feitas por todo canto bem pouco convincentes. Ciência não é o conforto da confiança na autoridade, não é culto de personalidade, é a disposição de checar um dado, um método, um resultado, venha de onde vier.

Na CPI, Yamaguchi disse que a taxa de letalidade no Amapá era a menor entre os estados graças ao “tratamento precoce”, o que não faz sentido. E a imprensa fez o seu trabalho, o Estadão nota que “é enganoso atribuir esse resultado ao chamado tratamento precoce. A letalidade está relacionada a diversos fatores, como quantidade de testes realizados, idade da população, densidade demográfica etc.”.

Mas, após a entrevista do general Paulo Sérgio no Correio Braziliense, no fim de março, foi repetido à exaustão que a letalidade no exército era baixa especificamente porque lá eles (supostamente) tomavam as medidas preventivas que Bolsonaro se esforça em negar ao resto da população.

Só que, do mesmo modo, a comparação direta entre a letalidade de 0,13% no exército e 2,5% no Brasil todo não faz sentido, já que o perfil demográfico (responsável por 90% da variação na letalidade) e a frequência de testagem dessas populações são completamente diferentes.

Mesmo assim, a comparação foi feita por Nicolelis e Átila, pela Reuters, Globonews, O Globo, Gazeta do Povo, Veja, CNN, pelos deputados Ivan Valente (em quem eu mesmo voto), Zeca Dirceu…

Por algum motivo, nenhum jornalista, nenhuma agência de checagem se deu ao trabalho de colar aí também um rótulo de “FAKE!”, ou notar que “A letalidade está relacionada a diversos fatores, como quantidade de testes realizados, idade da população”, e etc.

Claro que o erro acobertando um negacionismo que adoece e mata tem consequências muito mais graves do que o outro que visa denunciá-lo.
Mas se você só vai apontar os erros dos seus adversários… o que existe aí é respeito pela ciência, ou interesse em fazer uso político dela quando for conveniente?

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